segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O ROMANCE DE TESE DO NATURALISMO

Maria Auzeni dos Santos[1]
RESUMO
O presente artigo teve como objetivo principal discutir sobre o romance de tese do naturalismo individual. Onde verificou-se que romance-tese é um gênero necessário, especialmente em momentos de fundação, mesmo que tenda a envelhecer mal.

Palavras-Chaves: Romance; Tese; Realismo; Naturalismo.

ABSTRACT
This article aimed to discuss the main thesis of the novel of naturalism individual. Where it was found that novel thesis is a gender-appropriate, especially in times of foundation, even if it tends to age badly.
Words-keys: Romance; Thesis; Realism, Naturalism.



O presente artigo tem o objetivo principal discutir sobre o romance de tese do naturalismo individual, buscando mostrar as principais características do realismo-naturalismo, bem como expor as semelhanças e diferenças entre o Realismo e o Naturalismo, ou seja, a literatura como instrumento de análise de tipos sociais e como reforma dos costumes.

Cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de Souza e Manuel de Oliveira Paiva; o caso de Raul Pompéia é muito particular, pois seu romance O Ateneu ora apresenta características naturalistas, ora realistas, ora impressionistas (ANTUNES, 2008).

A narrativa naturalista é marcada pela forte análise social a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo; interessa também notar que os títulos dos romances naturalistas apresentam a mesma preocupação: O mulato, O cortiço, Casa de pensão, O Ateneu. Há inclusive, sobre o romance O cortiço, a tese de que o principal personagem não é João Romão, nem Bertoleza, nem Rita Baiana, nem Pombinha, mas sim o próprio cortiço ou, como afirma Antunes (2008), “o romance é o nascimento, vida, paixão e morte de um cortiço”. Sob um certo ponto de vista, o mesmo poderia ser dito sobre o colégio Ateneu (os dois romances se encerram com a destruição dos prédios, abrigos coletivos).

Por ser o romance naturalista, em geral, de caráter experimental e cientificista, um romance de tese que se orienta para a análise social e valorização do coletivo, procura mostrar o indivíduo como produto de um conjunto de fatores "naturais" - meio em que vive e sobre o qual pode agir momento e hereditariedade psicofisiológica - geradores de comportamentos e situações específicas.

Percebe-se que no romance experimental naturalista, a personalidade humana é determinada ou configurada por forças instintivas naturais que não devem ser reprimidas. Nas obras realistas e naturalistas, as personagens individuais, retiradas da vida quotidiana, retratam comportamentos e reações, apresentando-se como representativas de uma categoria social.

Privilegiando a narração, as obras realistas e naturalistas recorrem a uma linguagem próxima do texto informativo, clara e simples, usando a ordem direta nas construções sintáticas e sem grandes artifícios de simbologia ou outros para traduzir a realidade. Em muitas obras de escritores realistas, podemos encontrar marcas do Naturalismo.

O período naturalista foi marcado pelo desejo de redefinir as relações entre literatura e sociedade, fazendo com que muitos leitores tomassem consciência de uma realidade que não queriam ou não podiam ver, mostrando que o escritor naturalista tem por função revelar as regras, os problemas, os comportamentos e o funcionamento inadequado da sociedade.

Com relação ao romance de tese, este tem sempre uma finalidade didática e normativa quando procura evidenciar a validade de uma versão do mundo sedimentada numa doutrina política, social, filosófica, religiosa - no caso, o positivismo, o socialismo utópico, o determinismo. É determinado por um fim específico, que existe antes e para além da história. O narrador é não só a fonte da história, mas também o intérprete do seu significado. O efeito persuasivo da história de aprendizagem passa por uma identificação virtual do leitor com o protagonista. A aprendizagem negativa leva à punição do protagonista. O seu insucesso serve como lição e espera-se que o leitor perceba o percurso errado e não o deseje seguir.

Eça de Queirós no "episódio doméstico" que constitui O Primo Basílio (QUEIRÓS, 1990), restringe-se, por exemplo, ao espaço social e geográfico da capital, como menciona em carta a Rodrigues de Freitas, em 30 de Março de 1878, o qual se torna determinante para a própria construção das personagens:
"eu procurei que os meus personagens pensassem, decidissem, falassem e atuassem como puros lisboetas, educados entre o Cais do Sodré e o Alto da Estrela; não lhes daria nem a mesma mentalidade, nem a mesma ação se eles fossem do Porto ou Viseu; as individualidades morais variam de província a província - mas no meio lisboeta que escolhi, creio que elas são lógicas, exatamente derivadas e perfeitamente correspondentes" (QUEIRÓS, Correspondência, 1967, p.141).
Do ponto de vista onisciente[1] do narrador serve a ótica naturalista e a estratégia do romance de tese, a caracterização das personagens, sobretudo as principais, que incide sobre sua origem social, sua educação, as características inculcadas pelo ambiente, ao serviço da tese social que o narrador pretende demonstrar.

No entanto, há no romance inúmeras interferências da subjetividade do narrador ao nível do uso dos discursos valorativo, figurado, conotativo, abstrato, moralizante, e da ironia, que o narrador coloca ao serviço do romance de tese, visando influenciar o leitor no sentido de o levar a "ver verdadeiro", a aceitar a validade de uma certa visão do mundo.

Assim, segundo Sérgio (2007) Romance de Tese, é uma expressão utilizada para caracterizar os romances naturalistas porque se caracterizam como estrutura pensada para provar ao leitor a visão determinista da sociedade, sendo que a desonra dos indivíduos que vivem em um meio degradado é a grande tese exposta nesses romances. O romance de tese tem uma função moralizadora, denunciando os aspectos negativos da sociedade, induzindo os leitores a fazerem algo para melhorá-la. Então, os chamados romances "de tese" ou romances "experimentais" têm sua validade: conseguem dramatizar temas e conceitos que, no campo da ciência, são difíceis de serem visualizados. Porém, dão um passo atrás na medida em que sacrificam o literário em favor de outros elementos não propriamente artísticos.
[1] Graduanda do Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Sen. Helvídio Nunes de Barros - Picos-PI.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Dirceu Godinho. Realismo e Naturalismo. (s/d) Disponível pelo site: http://www.coladaweb.com/porliteratura/realismo_naturalismo.htm. Acesso em out/2008.


FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, 1910-1989. Minidicionário Século XXI Escolar: o minidicionário da língua portuguesa/ Aurélio Buarque de Holanda ferreira; coordenação de edição, Margarida dos Anjos, Marina Baird Ferreira; lexicografia, Margarida do Anjos... [et al.]. 4.ed.rev.ampliada. — Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.


QUEIRÓS, Eça de. Correspondência. Porto: Lello & Irmão, 1967.


_____ . O Primo Bazílio, Ed. e org. Luiz Fagundes Duarte. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990.


SÉRGIO, Ricardo. Bernardo Guimarães e o romance de tese. Publicado em 05/10/2007. Recanto das Letras. Disponível pelo site: http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/681604. Acesso em out/2008.
[1] Que sabe tudo. (conf. FERREIRA, 2000, p.499)

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