Ana Maria Gonçalves1
Francisca Maria Batista1
Holga Samira1
José Geovânio Buenos Aires Martins1
Francisca Maria Batista1
Holga Samira1
José Geovânio Buenos Aires Martins1
Maria Auzeni dos Santos
RESUMO
Nesta pesquisa, procuramos analisar, a influência exercida pelo contexto social em que estavam inseridos os autores do Naturalismo, no momento da criação literária, bem como discutir as personagens lésbicas de Aluísio Azevedo, em O cortiço e, ainda, a forma, com que foram abordadas dentro das narrativas.
Palavras-Chaves: Lesbianismo; Prostituição Feminina; Contradições Sociais; Naturalismo.
O lesbianismo é um tema bastante antigo em nossas letras, entretanto, pelo fato de ainda ser tido como tabu em nossa sociedade, não estamos familiarizados com ele a ponto de adentrarmos no mundo misterioso que cerca este tipo de relacionamento. Esta falta de conhecimento a respeito do assunto é sentida não apenas por nós que vivemos no século XXI, mas foi percebida principalmente pelas pessoas que viveram há séculos, não estando os escritores ilesos a essa falta de conhecimento a respeito do tema.
Essa nítida ignorância a respeito de tal assunto está refletida na maneira com que constroem suas personagens e no desfecho que dão às suas tramas, onde quase sempre a relação homossexual é vista como um desvio de conduta ou, quando menos, como uma espécie de “válvula de escape”. Nessa época é que é escrito um dos mais importantes romances brasileiros: O Cortiço, de Aluísio Azevedo.
Segundo Alves (2008) Aluísio Azevedo nasceu no Maranhão (1857 – 1915), foi o primeiro escritor no país a decidir-se pela literatura como forma de sobrevivência, escreveu romances como O Mulato, o Cortiço, e outros. Em seus escritos, usava de temas como os conflitos humanos, visto à luz dos princípios do Naturalismo (o ser humano é produto do meio, da educação)
Um dos traços característicos de Aluísio de Azevedo, que vemos retratados em o Cortiço, é sua facilidade em fixar conjuntos humanos, em fazer uma análise de tipos sociais, só que esses tipos se manifestam como uma “conseqüência” do meio, pois o grande personagem na verdade é o conjunto, ou seja, o cortiço, Os personagens modificam-se por influência do meio e isso promove o aparecimento de outro tema destacado na obra que é o sexo.
Um quesito bastante destacado na obra é o sexo, onde várias cenas são descritas em cima desse tema, e essas descrições são feitas de modo bem detalhista e realista, tomando para isso, termos científicos, biológicos, fazendo alusão às idéias correntes na época: o cientificismo, darwinismo e todas as demais teorias biológicas que estavam em alta, e eram características principais do Naturalismo.
Segundo Alves (2008) pode-se confirmar essas afirmações com um trecho da história que relata um “encontro sexual” de Miranda e Estela (ambos eram casados, mas como Estela o havia traído eles não mais mantinham relações íntimas, só que Miranda não se separava dela por causa do dinheiro), [...] estorceu-se toda, rangendo os dentes, grunhindo, debaixo daquele seu inimigo odiado [...]. Azevedo, (2008)
Na opinião de Azevedo (2008), o sexo é força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica do determinismo biológico, e do Naturalismo, conduz Aluísio a buscar quase todas as formas de patologia sexual, desde o "acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo, etc.
Numa análise às idéias de Azevedo expostas em O Cortiço, verifica-se que o autor se fixa muito mais em como os personagens vivem em função do meio e podem ser modificadas pelo mesmo. Assim, após a leitura pode-se verificar analisando o comportamento de Pombinha, considerada uma jovem pura que vivia no cortiço, mas que por estar em um ambiente um pouco degradante, acaba se casando e depois se separando, passando à viver com Leónie, uma prostituta que antes de Pombinha casar havia levado a menina a cometer atos de lesbianismo.
Segundo Alves (2008) Mott (1987) se pode perceber que Azevedo pintava a sociedade da época, que na verdade, não foge muito da nossa atual, com pessoas querendo mais e mais poder e dinheiro, pensando em si só, enquanto milhões de pessoas vivem marginalizadas em favelas, nas ruas.
Ele traz à tona, o que os livros de história, os meios de comunicação e os políticos não nos mostram, que estamos longe ainda de ser uma sociedade ideal. O seu estudo é indispensável na área das ciências humanas, pois ele traz-nos não somente um tema qualquer, mais uma análise crítica e analítica da vida social (ALVES, 2008).
Santos (2008) diz que a inserção de personagens lésbicas nas letras brasileiras vem desde o Quinhentismo advindo das terras portuguesas. Entretanto, ele surge como tema recorrente na literatura de autores brasileiros primeiramente com Gregório de Matos, o famoso Boca do Inferno, num poema intitulado Nise, nome fictício dado à uma lésbica pela qual o poeta havia se interessado, porém, que não correspondeu aos seus interesses.
Se a expressão da experiência erótica feminina chega a ser tão problemática, a representação da sexualidade lesbiana o é ainda mais, pois rompe com as relações dominantes de gênero, ao excluir a figura do homem e colocar a mulher em uma posição de sujeito atuante, em vez do papel tradicional de objeto do desejo masculino. Assim, o desejo lesbiano da obra não só representa uma dimensão importante da sexualidade feminina, como também serve para expor e questionar o controle social sobre a sexualidade e o corpo feminino. O lesbianismo abre um espaço para a realização pessoal e sexual da mulher, no qual a identificação com outro ser seu igual toma possível a auto integração do sujeito feminino.
O perfil das prostitutas, “preguiçoso e voltado para a busca incessante do prazer”, delineado por Aluísio Azevedo, teve ampla aceitação social, tanto que o modelo da mulher mundana fortaleceu seu oposto.
De acordo com Rago (1991, p.81) o campo que se constituiu em torno da prostituição passou a recobrir inúmeras práticas desejantes. O processo de modernização, de crescimento econômico, de explosão demográfica e de desterritorialização das subjetividades impulsionou o alargamento dos territórios do desejo.
Azevedo (2008), então, parece querer realçar que o destino do pobre era determinado pelo sistema social e econômico no qual vivia, mostrando que o caso de Pombinha não se constituía em uma exceção, mas em regra, assim chama atenção para o fato da decomposição familiar e a vida em comum, levada nos cortiços, fornecerem condições propícias à procura pela prostituição como meio de vida.
Na opinião de Caleiro (2002) as mulheres pobres necessitavam de “ganhar o pão de cada dia”, e desse modo tornavam-se candidatas em potencial à prostituição. Por outro lado, o moralismo recorrente acenava com a possibilidade de um “bom casamento” para as jovens que conservassem intacta sua honra. Aquelas que, apesar da sua condição humilde, permanecessem “dignas” conseguiriam um marido que se responsabilizaria pelo seu sustento, pois a necessidade de “trabalhar fora” deveria ser encarada apenas como ocupação transitória exercida por moças solteiras.
Verifica-se, então, que os comportamentos periféricos de muitas mulheres sinalizaram o caminho das mudanças posteriores, mas é impossível negar a força das representações femininas e do imaginário social nos discursos que visavam à formação da identidade e da cultura nacional durante o período e a época em que se passa o romance O Cortiço e seus reflexos que ainda subjazem na atualidade.
[1] Graduandos do Curso de Licenciatura Plena em Letras da Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Sen. Helvidio Nunes de Barros, Picos - PI
Referências Bibliográficas
ALVES, Graziela. O Cortiço: Retrato das Mazelas da Sociedade Brasileira. Disponível pelo site: http://www.eduquenet.net/cortico.htm. Acesso em out/2008.
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 36.ed. São Paulo: Ática, 2008. 207p.
CALEIRO, Regina Célia Lima. O positivismo e o papel das mulheres na ordem republicana. Unimontes Científica V.4, n.2 - Julho/ Dezembro de 2002.
MOTT, Luis. O lesbianismo no Brasil. Porto Alegre: Mercardo Aberto, 1987.
RAGO, Margareth. Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo, 1890-1930 — Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
SANTOS, Giceli Ribeiro dos. A relação homoerótica feminina na literatura brasileira. Feira de Santana,BA: Universidade Estadual de Feira de Santana - Departamento de Letras & Artes. s/d. Disponível pelo site: http://www.inicepg.univap.br/INIC_2005/inic/IC8%20anais/IC8-5.pdf. Acesso em out/2008.
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