quarta-feira, 19 de novembro de 2008

“AS PERSONAGENS FEMININAS EM “O CORTIÇO”

“AS PERSONAGENS FEMININAS EM “O CORTIÇO”
Francisca Maria Batista ¹
Resumo: Este artigo tem como objetivo fazer uma breve análise das personagens femininas em O Cortiço, de Aluisio de Azevedo, focalizando o processo de marginalização dentro do enredo do deste trabalho literário, para tanto observar o contexto em que a obra foi escrita.
Palavras-chave: Cortiço, Bertoleza, Rita, figura feminina.


Esta obra, escrita no final do século XIX, em uma época de grandes mudanças sociais, políticas e econômicas, e é um verdadeiro retrato desse período com os seus tipos humanos.
A personagem naturalista, no caso de Bertoleza, é completamente dominada pela circunstancia, influenciada pelo meio, passando a imagem de não possuir vontade própria. A obra tem uma gama enorme de personagens e Bertoleza tem alguns capítulos de destaque na narração, como no capítulo I, em que ela ajuda no processo de enriquecimento de João Romão:


Bertoleza representava ao lado de João Romão o papel tríplice de caixeiro, de criada e de amante. Mourejava a valer, mas de cara alegre; às quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias, aviando o café para os fregueses e depois preparando o almoço para os trabalhadores de uma pedreira que havia para além de um grande capinzal aos fundos da venda. (AZEVEDO, 1995, p. 18)





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¹ Aluna do Curso de Licenciatura Plena em Letras da UFPI-PICOS
No início da narrativa, Bertoleza é uma escrava de um senhor cego, de Juiz de Fora. Ela trabalhava em uma quitanda e pagava parte de sua renda ao seu dono. A mesma morava com um carroceiro, que morreu ao pegar uma grande carga de peso. No capítulo XXIII temos o desfecho da história, quando a ex-escrava acaba morrendo.
Dentro do cortiço todas essas personagens fazem papel importante por que são essenciais para a construção da obra.
Miranda é uma escrava negra que se põe a lutar pelo título de barão, buscando assim superar sua rival. Rita e Piedade chegam a se atacar fisicamente, uma não pisa no terreno da outra, ou a confusão está armada. Rita é uma mulata baiana muito misteriosa e não quer nem ouvir falar em casamento:


Casar? Protestou Rita. Nessa não cai a filha de um pai. Casar? Livra! Pra quê? Para arranjar cativeiro? Um marido é pior que o diabo; pensa logo que a gente é escrava! Nada! Qual! Deus te livre! Não há como viver cada um senhor e dono do que é seu. (AZEVEDO, 1995, p. 95)


Bertoleza tem uma grande importância para o enredo do romance. Como já foi dito antes, ela ajudou João Romão, mas confiou demais nele, pois queria ter posição social elevada perante a sociedade, bastava estar amigada a um homem branco.
Contudo, Aluizio de Azevedo conseguiu embutir na personalidade da ex-escrava uma virtude, fazendo com a mesma não aceitasse seu triste destino, pois ela lutou o quanto pode contra o determinismo que insistia em condená-la, entretanto, o remédio foi claro: sua própria vida.
A descrição, que é uma característica marcante do período literário, não foi muito agradável com as personagens, pois utiliza uma linguagem vulgar, com expressões grotescas e comparações a animais de carga. As negras eram consideradas destinadas ao trabalho, sem possibilidade de desfrutar de sua vida, de seus sentimentos. Foram mulheres que sofreram em busca de seus ideais, porém nunca perderam a sua essência feminina de viver.

Referências bibliográficas
AZEVEDO, Aluizio. O Cortiço. 28 ed. São Paulo: Ática, 1995.

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