quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A MULHER PROSTITUTA EM JOSÉ DE ALENCAR

A MULHER PROSTITUTA EM JOSÉ DE ALENCAR
Holga Samira Gonçalves Silva*
PALAVRAS-CHAVE
Romantismo, José de Alencar, Lucíola, sociedade.




A prostituição continua sendo assunto polêmico, apesar dos “tempos modernos”; isto é conseqüência da multiplicidade de visões existentes e dos preconceitos que ainda envolvem este tema tão comum em nossa sociedade nos tempos atuais.


A penetração do movimento romântico no Brasil teve todas as características de uma revolução, devido às circunstâncias sociais e políticas que acompanharam o processo da independência em 1822.Uma das mudanças marcantes que ocorreram no Brasil, início do século XX, foi à valorização dos espaços urbanos.Uma prova dessa revitalização das cidades são as reformas urbanas que aconteceram nas grandes cidades, como Rio de Janeiro, cenário onde é descrita a obra Lucíola; estas reformas objetivaram dar um ar europeizado às cidades e, por isso mesmo, deixá-las civilizadas e aptas a receber as pessoas da elite nos seus novos locais de convivência social. Nesse contexto, observamos a importância histórica de José de Alencar, que já era um escritor de prestígio, seus romances urbanos representam um levantamento da nossa vida burguesa do século passado.Em sua obra Lucíola, ele destaca o papel social que a prostituta representa, como mulher marginalizada pela cultura machista e alvo de preconceito social.


Numa corte onde as imitações de costumes européias se misturavam com a mediocridade da vida local, Alencar escreve seu romance; retratando a história de um jovem bacharel pernambucano, que fora para o Rio conhecer a corte e apaixonou-se por uma cortesã de luxo conhecida por Lúcia.


Alencar já descreve a duplicidade dessa personagem a partir do momento em que a mesma usa falsa identidade, uma vez que seu nome verdadeiro era Maria da Glória; esta troca de nomes se deve ao passado da protagonista, que por dificuldades financeiras entra na “vida”, fato, aliás, muito comum na sociedade atual em que se justifica o grande número de mulheres na prostituição. Apesar da condição de prostituta, ele se dispõe a assumí-la como mulher; o relacionamento entre ambos era muito difícil, pois, a sociedade os criticavam.Lúcia decide morar em uma casa mais simples e Paulo lhe faz visitas freqüentes. Quando a união dos dois parece estar estável. Lúcia engravida, se recusa a abortar o filho e morre.O final do texto é, pois, absolutamente moralista. A ótica conservadora triunfa.


Nesta obra Alencar foi capaz de retratar o drama dos personagens com o organismo social, abordando a situação social e familiar da mulher, em face do casamento e do amor, este sendo na obra operador de mudanças psicológicas e comportamentais.O tema desse romance gira em torno da problemática do amor, a prostituta que se arrepende de sua vida “pecadora”.O autor sublinhou, dessa forma, o caráter do amor como retificador e portador de substância de redenção.Lúcia uma meretriz de caráter singular, representa a luta entre a luz regeneradora e uma vida pecaminosa e de luxúria.


O autor apresenta a figura da prostituta “Lúcia” para fazer um paradoxo da estrutura social do Brasil, onde o moço solteiro encontrava prazer na vida urbana e na prostituição, desencadeada pelas grandes transformações como a consolidação da ordem burguesa e as concentrações urbanas cada vez maiores. Evidenciando assim o delineamento crítico dos conceitos morais existentes na sociedade e endossado por uma carga explosiva de preconceitos sobre a figura da prostituta no século XIX. Percebemos isto no momento em que Paulo vê Lúcia pela primeira vez e pergunta a seu amigo o Sr. Sá quem era aquela senhora, este lhe responde que não se tratava bem de uma senhora; o pensamento de Paulo foi o seguinte: “Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato de inocência”.(Alencar,1988,p.13)


Observamos que Lucíola é um romance metafórico: “Como se trata de nomes, eu também proponho uma mudança, bocejou Rochinha.Em lugar de Lúcia diga-se Lúcifer”.(Alencar,p.36)


Na semelhança que provém desses dois nomes próprios “Lúcia e Lúcifer”, são atribuídos traços de personalidade à Lúcia, como seduzir o homem para submetê-lo à sua própria dominação como o faria Lúcifer. Trata-se, portanto, de uma relação de intersecção onde ambos possuem capacidade de seduzirem e perverter almas.Tal como descreveu Alencar esta personagem era de natureza complexa nas escolhas em sua vida e no seu comportamento.


A personagem Lúcia constitui um perfil de mulher que vive o misto entre o amor puro e a libertinagem, isto é, entre o modelo romântico e o modelo realista. No início da obra de Alencar, Lúcia é uma mulher forte e decidida, uma prostituta de luxo que participa dos prazeres noturnos e se comporta como tal, como foi na festa na casa do Sá, onde ela subira na mesa, dançando de forma erótica, deixando toda a sua sensualidade fluir.


Lúcia ergueu a cabeça com orgulho satânico, e levantando-se de um salto, agarrou uma garrafa de champanha, quase cheia. Quando a pousou sobre a mesa, todo o vinho tinha-lhe passado pelos lábios, onde a espuma fervilhava ainda. [...] Lúcia saltava sobre a mesa. Arrancando uma palma de um dos jarros de flores, traçou-a nos cabelos, coroando-se de verbena, com as virgens gregas. Depois agitando as longas tranças negras, que se enroscaram quais serpes vivas retraiu os rins num requebro sensual (Alencar, 1988, p. 42).



Lúcia consegue a purificação interior através do seu arrependimento, mas seu erro não é esquecido e a sociedade não perdoa seu passado.O romance é, portanto, uma denúncia social a uma sociedade que marginaliza uma camada inferior “as profissionais do sexo”, mas delas usufruem em benefício próprio. Lúcia é um perfil de mulher que vive um conflito entre o amor puro e a luxúria. Esta obra se enquadra perfeitamente na linha trágica, é impregnada de idéia de morte. Sob a ótica alencariana, Lúcia que é uma mulher forte e corajosa, não pode viver em uma sociedade injusta e hipócrita e, por isso, ele prefere deixar que a morte seja sua redenção.


Observa-se ao analisar a obra que o movimento romântico foi a expressão viva da realidade atual, podendo ser considerada pré-realista. Alencar em seus romances urbanos, escritos na era colonial. Buscou também a vida cotidiana do Rio de Janeiro, traçando seus perfis femininos. Em Lucíola o autor abordou o drama dos personagens com a sociedade, mostrando a impossibilidade da união entre duas classes distintas, o marginal e o burguês.

* Graduanda em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvideo Nunes de Barros Picos-PI .


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



ALENCAR, José de.Lucíola, 12.Ed.São Paulo: Ática, 1988.

www.google.com.br
( Texto - A Prostituta na Literatura : Contestação e denúncia.)

Nenhum comentário: