sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Romantismo

A CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM CAPITU EM DOM CASMURRO

José Geovânio Buenos Aires Martins – UFPI¹
Um breve percurso por Dom Casmurro
Dom Casmurro é a obra de Machado de Assis que mais tem levantado interpretações, e a mais discutida de todos os tempos. Machado é enigmático, fazendo com que o leitor percorra muitos mistérios dentro de suas criações. Segundo ²Nelson Sousa, professor de Língua Portuguesa e Literatura pela UFBA, “Dom Casmurro, de Machado de Assis, é o romance mais famoso da literatura brasileira. Neste livro está o talento de seu autor ao analisar psicologicamente seus personagens bem como a criação do clima de dúvida e ambigüidade quanto ao adultério de Capitu - uma das personagens da obra”.

Esta também é uma obra que contém muitas armadilhas, daí a importância de o leitor estar atento a tudo que o narrador, que é um “casmurro”, como ele mesmo se intitula, fala, pois estará em voga o seu ponto de vista. Ele inicia fazendo uma alusão a sua infância subordinada à sua família, bem como de um posterior casamento e um filho coberto de farsa, pois, segundo ele, Capitu o havia traído com seu melhor amigo, e esta criança seria o fruto deste relacionamento.

Bentinho, já transformado em Casmurro, conclui com uma indagação acerca de Capitu: “a namorada adorável dos quinze anos já não escondia dentro dela a mulher infiel, que adiante o enganaria com o melhor amigo?” (SCHWARZ, 1997, p. 9). Desta forma, ele induz o leitor a pensar e acreditar na “possível dissimulação e traição de sua mulher”. Mas se as pistas deixadas nas entrelinhas pelo narrador forem observadas, perceberá que há um grande equivoco nos fatos.


Capitu: culpada!(?)
Na primeira parte da obra, o casal de namorados luta contra as indiferenças por parte da família de Bentinho, pois Capitu era filha de vizinhos pobres, e o Bento, além de ser rico, era prometido à igreja para ser padre. A segunda parte já se inicia com a felicidade dos recém casados na Glória.

Através da criação da imagem de sua mulher, ele confunde o leitor, levando-o para um julgamento. Não há uma denúncia do adultério por parte de Capitu, porém o leitor é levado a crer que tenha ocorrido. O trecho seguinte é uma dessas pistas: “A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhos alguns instantes para o cadáver, tão fixa, apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas”. (ASSIS, 1998, p. 169).

A desconfiança e o julgamento de Bentinho para com Capitu aumentam mais ainda no velório de Escobar, quando ele pára de chorar e observa os olhos tristes e lacrimosos de sua esposa olhando para o defunto. Logo ele pensa que ela estaria assim porque o amava, porque teria um caso com ele, um caso que teria gerado um filho.

Bento possuía um ciúme exacerbado e, assim, a vontade clara e a lucidez de Capitu é rebaixada à prova de um caráter interesseiro e dissimulado, ao passo que a admiração com que o mesmo Bento havia obedecido às instruções dela, como podemos perceber no início da obra quando ela dá as coordenadas a ele de como fazer as coisas, faz figura de simplicidade risível. É bom lembrar que todos esses ciúmes tiveram início bem antes de Escobar aparecer na vida dos dois, quando, na adolescência, Bentinho quis rasgar sua amiga com as unhas: “A vontade que me dava era cravar-lhe as unhas no pescoço, enterrá-las bem, até ver-lhe sair a vida com os dentes”. (ASSIS, 1998, p.109).

Pode-se observar, no trecho acima, que o personagem já possuía uma capacidade pré-julgadora e também uma índole contestável, já que tinha desejos demoníacos de matar sua amada por um simples vizinho, que ele imaginara ter um romance com Capitu. Ou seja, não dá para confiar na conversa de uma pessoa que parece ter uma dupla personalidade.

Como se trata de uma estória narrada por um narrador masculino, têm-se a possibilidade de uma deturpação dos fatos narrados, como também a existência de uma certa fantasia por parte do narrador. Tudo isto pode ter surgido da mente dele e prejudicado uma personagem ao longo de muitos anos. Bentinho como D. Casmurro, contando a estória de seu passado, dificilmente dá a voz a Capitu, esta, introduzindo-se apenas na narrativa para ser julgada como uma adúltera. Sendo assim, vista unicamente através de olhos do Bentinho, que a todo instante os define como “olhos de ressaca”.


Nesta época também havia a questão da posse do homem sobre a mulher, como também a submissão de decisões destes centralizados nos pais e na igreja, que é o caso de Bento que estava predestinado a ser padre, instituição sempre presente ao longo da narrativa através de metáforas:

Eu amava Capitu! Capitu amava-me! Naturalmente por ser minha. Naturalmente também por ser a primeira. Padre futuro, estava assim diante dela como de um altar, sendo uma das faces a Epístola e a outra o Evangelho. A boca podia ser o cálice, os lábios e patena. (...) Estávamos ali com o céu em nós. (ASSIS, 1998, p. 28,31)

Em D. Casmurro, a mulher apesar de aparecer como objeto de uso do homem, também figura como dona de seus atos e com poder de decisão. Capitu sabe sair de qualquer situação, a qualquer momento, é a "mulher modelo" em pleno século XIX. Ela tomava decisões que não pareciam vir de uma adolescente, mas de uma mulher. "Capitu riscava sobre o riscado para apagar bem o escrito (...) De resto, ele chegou sem cólera, todo meigo, apesar do gesto duvidoso ou menos duvidoso em que nos apanhou. (ASSIS, 1998, p. 31). Neste texto percebe-se que ela conseguiu se sair bem de uma situação que envolvia ela e sua amada.

Na primeira parte da obra, Capitu é tida como uma adolescente esperta, capaz de tomar decisões adultas. Ela também sabe quando uma decisão não é bem tomada, como quando a mãe de seu amado resolve enviá-lo para um seminário. Ela explode, xinga a mãe de Bentinho, critica até mesmo seu sistema religioso, quando ela a chama de beata.

Outro ponto importantíssimo de ser ressaltado é o fato de Bentinho ter por hábito omitir verdades ligadas à família com relação à Capitu, daí podermos questionar se ele, já D. Casmurro, contou a verdade. Tal resposta virá conforme a posição de cada um, posto que "a obra literária possui várias interpretações", assim cada um tira as suas próprias conclusões.
Calou-se outra vez. Quando tornou a falar, tinha mudado; não era ainda a Capitu de costume, mas quase. Estava séria, sem aflição, falava baixo. Quis saber a conversação da minha casa; eu contei-lhe toda, menos a parte que lhe dizia respeito. (ASSIS, 1998, p. 36).

Em toda a narrativa é através da linguagem dos olhos de Bentinho que lemos Capitu e temos acesso a ela, que se torna indecifrada, talvez este tenha sido o desejo subconsciente do narrador, valorizando-os, pois estes são enigmáticos e dificilmente podemos decifrá-los: "Tinha-me lembrado da definição que José Dias dera deles, olhos de cigana oblíqua e dissimulada (...) que era capaz de penteá-los, se quisesse." (ASSIS, 1998, p. 183).

Não fosse a linguagem dos olhos, enganadora, flexível, enigmática presente nos grandes momentos do romance, talvez Bentinho não chegasse a desconfiar de Capitu, mas passou a lê-la com os olhos e isso destruiu o seu amor à hora do enterro do seu amigo Escobar. Somado a este argumento ainda temos as suspeitas de Bentinho quando se volta para o filho e começa a observar algumas feições que, segundo ele, lembravam o morto e isto também contribuiu para uma total destruição e desmistificação da suspeita mantida por ele. O que pode ser um equívoco, pois o menino poderia estar apenas imitando o jeito do amigo de seu pai, e já com todo o ciúme ele teria ligado apenas um fato ao outro.

Tudo é crítica à Capitu no romance D. Casmurro, de Machado de Assis, críticas essas, frutos de um ciúme doentio devido a uma confusão de sentimentos e desconfiança de Bentinho. Tendo em vista toda essa narrativa de Machado, nota-se que a personagem feminina se mostra perseverante aos problemas que a sociedade lhe impõe. Ela assume dissimuladamente o que parece à sua frente e luta por aquilo que tem direito, mesmo que suspeitas caiam sobre si de uma hora para outra. É a individualidade feminina sobreposta às imposições sociais, que a educação, a igreja e o homem colocam sobre a mulher.

Diria que é uma imagem desfigurada da realidade, totalmente longe daquilo que verdadeiramente representaria a mulher de coragem e fibra que se sobressaía em tudo sobre o seu marido, que era um homem fraco, mandado pela mãe, incapaz de buscar a verdade dos fatos, mas apenas passou a narrá-los sem procurar a veracidade.

Conclusão
A construção do enredo se dá com base em fatos ou marcas lingüísticas que revelam e negam possibilidades. Nesse grande enigma, que é Dom Casmurro, Capitu está no centro, cercada por personagens masculinos: Bentinho, Escobar, Ezequiel. Na relação entre eles, paira uma dúvida que não é sanada pelo autor. Os indícios do adultério de Capitu estão no livro, assim como as marcas que negam o mesmo. Talvez Machado de Assis não tenha pensado nesta possibilidade, mas alguns leitores distraídos tenham ligado um fato ao outro e tenha observado apenas o ponto de vista do narrador.

Capitu seria sim, a mulher forte e determinada a casar-se com um homem que futuramente viria a traí-la de uma forma injusta, sem direito de resposta, já que ao narrar os fatos a mesma já havia morrido. Desde adolescente aprendeu a ser guerreira, e mesmo oriunda de família pobre, jamais desistiu de nenhum de seus sonhos, ainda que eles viessem a prejudicá-la.
_______________________________________________________________ ¹Aluno do curso de Lic. Plena em Letras na UFPI-Picos, da disciplina Ficção na Literatura Nacional.²Disponível no site: www.jayrus.art.br

Referências bibliográficas
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. São Paulo: Ática, 1998.
GLEDSON, John. Machado De Assis: Impostura e Realismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
MIOSÉS, Massaud. A Criação Literária. São Paulo: Cultrix, 1997.
SENA, Marta de. O olhar oblíquo do bruxo: ensaios em torno de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
SCHWARZ, Roberto. Duas meninas. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A MULHER PROSTITUTA EM JOSÉ DE ALENCAR

A MULHER PROSTITUTA EM JOSÉ DE ALENCAR
Holga Samira Gonçalves Silva*
PALAVRAS-CHAVE
Romantismo, José de Alencar, Lucíola, sociedade.




A prostituição continua sendo assunto polêmico, apesar dos “tempos modernos”; isto é conseqüência da multiplicidade de visões existentes e dos preconceitos que ainda envolvem este tema tão comum em nossa sociedade nos tempos atuais.


A penetração do movimento romântico no Brasil teve todas as características de uma revolução, devido às circunstâncias sociais e políticas que acompanharam o processo da independência em 1822.Uma das mudanças marcantes que ocorreram no Brasil, início do século XX, foi à valorização dos espaços urbanos.Uma prova dessa revitalização das cidades são as reformas urbanas que aconteceram nas grandes cidades, como Rio de Janeiro, cenário onde é descrita a obra Lucíola; estas reformas objetivaram dar um ar europeizado às cidades e, por isso mesmo, deixá-las civilizadas e aptas a receber as pessoas da elite nos seus novos locais de convivência social. Nesse contexto, observamos a importância histórica de José de Alencar, que já era um escritor de prestígio, seus romances urbanos representam um levantamento da nossa vida burguesa do século passado.Em sua obra Lucíola, ele destaca o papel social que a prostituta representa, como mulher marginalizada pela cultura machista e alvo de preconceito social.


Numa corte onde as imitações de costumes européias se misturavam com a mediocridade da vida local, Alencar escreve seu romance; retratando a história de um jovem bacharel pernambucano, que fora para o Rio conhecer a corte e apaixonou-se por uma cortesã de luxo conhecida por Lúcia.


Alencar já descreve a duplicidade dessa personagem a partir do momento em que a mesma usa falsa identidade, uma vez que seu nome verdadeiro era Maria da Glória; esta troca de nomes se deve ao passado da protagonista, que por dificuldades financeiras entra na “vida”, fato, aliás, muito comum na sociedade atual em que se justifica o grande número de mulheres na prostituição. Apesar da condição de prostituta, ele se dispõe a assumí-la como mulher; o relacionamento entre ambos era muito difícil, pois, a sociedade os criticavam.Lúcia decide morar em uma casa mais simples e Paulo lhe faz visitas freqüentes. Quando a união dos dois parece estar estável. Lúcia engravida, se recusa a abortar o filho e morre.O final do texto é, pois, absolutamente moralista. A ótica conservadora triunfa.


Nesta obra Alencar foi capaz de retratar o drama dos personagens com o organismo social, abordando a situação social e familiar da mulher, em face do casamento e do amor, este sendo na obra operador de mudanças psicológicas e comportamentais.O tema desse romance gira em torno da problemática do amor, a prostituta que se arrepende de sua vida “pecadora”.O autor sublinhou, dessa forma, o caráter do amor como retificador e portador de substância de redenção.Lúcia uma meretriz de caráter singular, representa a luta entre a luz regeneradora e uma vida pecaminosa e de luxúria.


O autor apresenta a figura da prostituta “Lúcia” para fazer um paradoxo da estrutura social do Brasil, onde o moço solteiro encontrava prazer na vida urbana e na prostituição, desencadeada pelas grandes transformações como a consolidação da ordem burguesa e as concentrações urbanas cada vez maiores. Evidenciando assim o delineamento crítico dos conceitos morais existentes na sociedade e endossado por uma carga explosiva de preconceitos sobre a figura da prostituta no século XIX. Percebemos isto no momento em que Paulo vê Lúcia pela primeira vez e pergunta a seu amigo o Sr. Sá quem era aquela senhora, este lhe responde que não se tratava bem de uma senhora; o pensamento de Paulo foi o seguinte: “Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato de inocência”.(Alencar,1988,p.13)


Observamos que Lucíola é um romance metafórico: “Como se trata de nomes, eu também proponho uma mudança, bocejou Rochinha.Em lugar de Lúcia diga-se Lúcifer”.(Alencar,p.36)


Na semelhança que provém desses dois nomes próprios “Lúcia e Lúcifer”, são atribuídos traços de personalidade à Lúcia, como seduzir o homem para submetê-lo à sua própria dominação como o faria Lúcifer. Trata-se, portanto, de uma relação de intersecção onde ambos possuem capacidade de seduzirem e perverter almas.Tal como descreveu Alencar esta personagem era de natureza complexa nas escolhas em sua vida e no seu comportamento.


A personagem Lúcia constitui um perfil de mulher que vive o misto entre o amor puro e a libertinagem, isto é, entre o modelo romântico e o modelo realista. No início da obra de Alencar, Lúcia é uma mulher forte e decidida, uma prostituta de luxo que participa dos prazeres noturnos e se comporta como tal, como foi na festa na casa do Sá, onde ela subira na mesa, dançando de forma erótica, deixando toda a sua sensualidade fluir.


Lúcia ergueu a cabeça com orgulho satânico, e levantando-se de um salto, agarrou uma garrafa de champanha, quase cheia. Quando a pousou sobre a mesa, todo o vinho tinha-lhe passado pelos lábios, onde a espuma fervilhava ainda. [...] Lúcia saltava sobre a mesa. Arrancando uma palma de um dos jarros de flores, traçou-a nos cabelos, coroando-se de verbena, com as virgens gregas. Depois agitando as longas tranças negras, que se enroscaram quais serpes vivas retraiu os rins num requebro sensual (Alencar, 1988, p. 42).



Lúcia consegue a purificação interior através do seu arrependimento, mas seu erro não é esquecido e a sociedade não perdoa seu passado.O romance é, portanto, uma denúncia social a uma sociedade que marginaliza uma camada inferior “as profissionais do sexo”, mas delas usufruem em benefício próprio. Lúcia é um perfil de mulher que vive um conflito entre o amor puro e a luxúria. Esta obra se enquadra perfeitamente na linha trágica, é impregnada de idéia de morte. Sob a ótica alencariana, Lúcia que é uma mulher forte e corajosa, não pode viver em uma sociedade injusta e hipócrita e, por isso, ele prefere deixar que a morte seja sua redenção.


Observa-se ao analisar a obra que o movimento romântico foi a expressão viva da realidade atual, podendo ser considerada pré-realista. Alencar em seus romances urbanos, escritos na era colonial. Buscou também a vida cotidiana do Rio de Janeiro, traçando seus perfis femininos. Em Lucíola o autor abordou o drama dos personagens com a sociedade, mostrando a impossibilidade da união entre duas classes distintas, o marginal e o burguês.

* Graduanda em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvideo Nunes de Barros Picos-PI .


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



ALENCAR, José de.Lucíola, 12.Ed.São Paulo: Ática, 1988.

www.google.com.br
( Texto - A Prostituta na Literatura : Contestação e denúncia.)

A CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM AURÉLIA CAMARGO, NO ROMANCE DE JOSÉ DE ALENCAR

Ana Maria Gonçalves¹

Em uma sociedade em que a vida era mais previsível, surge uma mulher com idéias e conceitos à frente de seu tempo, fruto do deslocamento do ambiente doméstico para o espaço público. O Rio de Janeiro conhece uma estrela. Esta, porém, fria na maneira de agir e de pensar. Chegava para mostrar que a mulher não estava destinada a ser esposa obediente, reclusa e passiva.

Aurélia Camargo era uma mulher diferente, determinada no seu jeito de querer se opor às regras da sociedade em que acaba de se inserir. Sua personagem sofre uma mudança radical. A doce menina que não tinha condições de oferecer um dote para poder se casar, dá lugar a uma rica mulher, carregada de frieza, ódio e amargura, uma verdadeira estrela:

Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela. Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o cetro; foi proclamada a rainha dos salões; tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade. Era rica e formosa. (ALENCAR: 1996, p. 13).


Como entender, naquele tempo, uma transformação em uma figura que de praxe deveria se adequar ao que a sociedade considerava adequável. Aurélia “foi do contra”, queria vingar-se do machismo, do interesse material, no fundo queria resgatar o amor verdadeiro.
Era uma expressão fria, pausada, inflexível, que jaspeava sua beleza, dando-lhe quase a gelidez da estátua. Mas no lampejo de seus grandes olhos pardos brilhava as irradiações da inteligência. Operava-se nela uma revolução. O princípio vital da mulher abandonava seu foco natural, o coração para concentrar-se no cérebro, onde residiam as faculdades especulativas do homem. (ALENCAR: 1996, p. 31).

A forma que Aurélia encontrou para regenciar Fernando Seixas, lhe concedia uma sensação de dever a ser cumprido. Precisava se vingar dele, já que o mesmo a preferira Adelaide a ela. Mostrava que a mulher pode ter direito aos direitos dos homens, como participar das conversas nas reuniões da sociedade, falar o que pensa, agir da maneira que mais lhe parecesse melhor. A personagem, no entanto, sofre com aquilo.

A ironia, ou seja, a superficialidade com que demonstrava ser educada, delicada e corajosa lhe trazia dor, um sentimento que contradizia a senhora Aurélia Camargo.

José de Alencar, no romance Senhora, antecipou uma mulher de personalidade, que não acredita mais no espaço doméstico como único espaço reservado para ela. Aurélia podia ter deixado seus negócios para o tio Lemos conduzir com todos os poderes, com o casamento, e ele se encarregaria de toda a sua vida, enquanto a mesma poderia comportar-se como qualquer mulher de sua época. A questão está justamente aí, pois Aurélia não quis seguir a regra. Acredito que não foi somente a atitude cruel de Seixas que a fez ser assim, mas ela já nascera com uma estrela, estava preparada para seguir um caminho diferente. Não se pode negar que os encalços da vida a fizeram mais forte e determinada. Um desses era o fato de não ter pai nem mãe: “Aurélia era órfã; e tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade”. (ALENCAR: 1996, p. 13).

Interessante foi observar como Aurélia trata seus pretendentes, sua reação de ironia e desprezo, vistos à ótica do mercado matrimonial, tematizavam o casamento como forma de ascensão social. Talvez tenha se perguntado: tudo gira em torno do dinheiro, até mesmo o amor? Ela, então, entrara na dança, desprezando seus pretendentes, tratando-os como objetos descartáveis:

Muito devia a cobiça embrutecer esses homens, ou cegá-los a paixão, para não verem o frio escárnio com que Aurélia o ludibriava nestes brincos ridículos, que eles tomavam por garridices de menina, e não eram senão ímpetos de uma irritação íntima e talvez mórbida. (ALENCAR: 1996, p. 17).

Provocou, no entanto, a revolta de muitos quando escolheu Seixas para ser seu marido. Percebe-se aqui que seus valores mais profundos ainda estavam guardados. O casamento com o homem que tanto amava era uma forma de dizer que ela ainda acreditava no amor, mesmo que todas as suas atitudes com o marido fossem contrárias aos seus sentimentos. Na aparência, se podia visualizar uma Aurélia Camargo firme e determinada. Mas, a jovem bela, rica e inteligente, que tinha todos os homens a seus pés e os esnobava, no seu íntimo, escondia uma moça frágil e insegura, motivada por uma decepção amorosa.

Quando viu seu amor regenerado, decidiu, pelo menos para ele, desconstruir a sua personalidade de frieza e amargura. Rendeu-se ao amor. Era mais uma vez a doce Aurélia, declarando seu amor e rogando pelo perdão do amado. Seu comportamento esquizofrênico parece ter chegado ao fim, talvez por que tenha, José de Alencar, querido a vitória do Romantismo sobre o Realismo: “As cortinas cerra-se, e as auras da noite, acariciando o seio das flores, cantavam o hino misterioso do santo amor conjugal”. (ALENCAR: 1996, p.312).

Cavalcante Proença, no prefácio do livro Senhora (1996:7), diz que a técnica de construção da obra é muito bem tramada, prendendo o leitor através dos seus diversos graus de intensidade.

Conclusão:
A contradição da obra era mostrar as relações aparentes da sociedade fluminense, a personalidade de Aurélia marcada por extremos psíquicos, em que a mesma dava valor aos sentimentos, mas se valia do dinheiro para atingir seus objetivos. Dessa forma, o dinheiro acabava impondo o valor burguês que lhe era atribuído na sociedade do século XIX. A realização amorosa só se cumpre depois de Aurélia vencer a aparente esquizofrenia que parece conduzi-la à dúvida quantos às intenções de Fernando Seixas. O comportamento esquizóide manifesta-se nas atitudes anti-éticas de desejar o amor do marido com todas as suas forças, mas lutar contra o mesmo até suas ultimas reservas.

Aluna do Curso de Lic. Plena em Letras da UFPI Picos – Piauí

Referências bibliográficas:
ALENCAR, José de. Senhora. São Paulo: Ediouro Publicações, 1996.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

“AS PERSONAGENS FEMININAS EM “O CORTIÇO”

“AS PERSONAGENS FEMININAS EM “O CORTIÇO”
Francisca Maria Batista ¹
Resumo: Este artigo tem como objetivo fazer uma breve análise das personagens femininas em O Cortiço, de Aluisio de Azevedo, focalizando o processo de marginalização dentro do enredo do deste trabalho literário, para tanto observar o contexto em que a obra foi escrita.
Palavras-chave: Cortiço, Bertoleza, Rita, figura feminina.


Esta obra, escrita no final do século XIX, em uma época de grandes mudanças sociais, políticas e econômicas, e é um verdadeiro retrato desse período com os seus tipos humanos.
A personagem naturalista, no caso de Bertoleza, é completamente dominada pela circunstancia, influenciada pelo meio, passando a imagem de não possuir vontade própria. A obra tem uma gama enorme de personagens e Bertoleza tem alguns capítulos de destaque na narração, como no capítulo I, em que ela ajuda no processo de enriquecimento de João Romão:


Bertoleza representava ao lado de João Romão o papel tríplice de caixeiro, de criada e de amante. Mourejava a valer, mas de cara alegre; às quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias, aviando o café para os fregueses e depois preparando o almoço para os trabalhadores de uma pedreira que havia para além de um grande capinzal aos fundos da venda. (AZEVEDO, 1995, p. 18)





_________________________________________________
¹ Aluna do Curso de Licenciatura Plena em Letras da UFPI-PICOS
No início da narrativa, Bertoleza é uma escrava de um senhor cego, de Juiz de Fora. Ela trabalhava em uma quitanda e pagava parte de sua renda ao seu dono. A mesma morava com um carroceiro, que morreu ao pegar uma grande carga de peso. No capítulo XXIII temos o desfecho da história, quando a ex-escrava acaba morrendo.
Dentro do cortiço todas essas personagens fazem papel importante por que são essenciais para a construção da obra.
Miranda é uma escrava negra que se põe a lutar pelo título de barão, buscando assim superar sua rival. Rita e Piedade chegam a se atacar fisicamente, uma não pisa no terreno da outra, ou a confusão está armada. Rita é uma mulata baiana muito misteriosa e não quer nem ouvir falar em casamento:


Casar? Protestou Rita. Nessa não cai a filha de um pai. Casar? Livra! Pra quê? Para arranjar cativeiro? Um marido é pior que o diabo; pensa logo que a gente é escrava! Nada! Qual! Deus te livre! Não há como viver cada um senhor e dono do que é seu. (AZEVEDO, 1995, p. 95)


Bertoleza tem uma grande importância para o enredo do romance. Como já foi dito antes, ela ajudou João Romão, mas confiou demais nele, pois queria ter posição social elevada perante a sociedade, bastava estar amigada a um homem branco.
Contudo, Aluizio de Azevedo conseguiu embutir na personalidade da ex-escrava uma virtude, fazendo com a mesma não aceitasse seu triste destino, pois ela lutou o quanto pode contra o determinismo que insistia em condená-la, entretanto, o remédio foi claro: sua própria vida.
A descrição, que é uma característica marcante do período literário, não foi muito agradável com as personagens, pois utiliza uma linguagem vulgar, com expressões grotescas e comparações a animais de carga. As negras eram consideradas destinadas ao trabalho, sem possibilidade de desfrutar de sua vida, de seus sentimentos. Foram mulheres que sofreram em busca de seus ideais, porém nunca perderam a sua essência feminina de viver.

Referências bibliográficas
AZEVEDO, Aluizio. O Cortiço. 28 ed. São Paulo: Ática, 1995.

Video Machado de Assis

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Os Incrí­veis - Era Um Garoto que Como eu Amava os Beatles e os Rolling Ston

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Artigo "O LESBIANISMO E A PROSTITUIÇÃO FEMININA EM O CORTIÇO"

Ana Maria Gonçalves1
Francisca Maria Batista1
Holga Samira1
José Geovânio Buenos Aires Martins1
Maria Auzeni dos Santos

RESUMO

Nesta pesquisa, procuramos analisar, a influência exercida pelo contexto social em que estavam inseridos os autores do Naturalismo, no momento da criação literária, bem como discutir as personagens lésbicas de Aluísio Azevedo, em O cortiço e, ainda, a forma, com que foram abordadas dentro das narrativas.

Palavras-Chaves: Lesbianismo; Prostituição Feminina; Contradições Sociais; Naturalismo.




O lesbianismo é um tema bastante antigo em nossas letras, entretanto, pelo fato de ainda ser tido como tabu em nossa sociedade, não estamos familiarizados com ele a ponto de adentrarmos no mundo misterioso que cerca este tipo de relacionamento. Esta falta de conhecimento a respeito do assunto é sentida não apenas por nós que vivemos no século XXI, mas foi percebida principalmente pelas pessoas que viveram há séculos, não estando os escritores ilesos a essa falta de conhecimento a respeito do tema.

Essa nítida ignorância a respeito de tal assunto está refletida na maneira com que constroem suas personagens e no desfecho que dão às suas tramas, onde quase sempre a relação homossexual é vista como um desvio de conduta ou, quando menos, como uma espécie de “válvula de escape”. Nessa época é que é escrito um dos mais importantes romances brasileiros: O Cortiço, de Aluísio Azevedo.

Segundo Alves (2008) Aluísio Azevedo nasceu no Maranhão (1857 – 1915), foi o primeiro escritor no país a decidir-se pela literatura como forma de sobrevivência, escreveu romances como O Mulato, o Cortiço, e outros. Em seus escritos, usava de temas como os conflitos humanos, visto à luz dos princípios do Naturalismo (o ser humano é produto do meio, da educação)

Um dos traços característicos de Aluísio de Azevedo, que vemos retratados em o Cortiço, é sua facilidade em fixar conjuntos humanos, em fazer uma análise de tipos sociais, só que esses tipos se manifestam como uma “conseqüência” do meio, pois o grande personagem na verdade é o conjunto, ou seja, o cortiço, Os personagens modificam-se por influência do meio e isso promove o aparecimento de outro tema destacado na obra que é o sexo.

Um quesito bastante destacado na obra é o sexo, onde várias cenas são descritas em cima desse tema, e essas descrições são feitas de modo bem detalhista e realista, tomando para isso, termos científicos, biológicos, fazendo alusão às idéias correntes na época: o cientificismo, darwinismo e todas as demais teorias biológicas que estavam em alta, e eram características principais do Naturalismo.

Segundo Alves (2008) pode-se confirmar essas afirmações com um trecho da história que relata um “encontro sexual” de Miranda e Estela (ambos eram casados, mas como Estela o havia traído eles não mais mantinham relações íntimas, só que Miranda não se separava dela por causa do dinheiro), [...] estorceu-se toda, rangendo os dentes, grunhindo, debaixo daquele seu inimigo odiado [...]. Azevedo, (2008)

Na opinião de Azevedo (2008), o sexo é força mais degradante que a ambição e a cobiça. A supervalorização do sexo, típica do determinismo biológico, e do Naturalismo, conduz Aluísio a buscar quase todas as formas de patologia sexual, desde o "acanalhamento" das relações matrimoniais, adultério, prostituição, lesbianismo, etc.

Numa análise às idéias de Azevedo expostas em O Cortiço, verifica-se que o autor se fixa muito mais em como os personagens vivem em função do meio e podem ser modificadas pelo mesmo. Assim, após a leitura pode-se verificar analisando o comportamento de Pombinha, considerada uma jovem pura que vivia no cortiço, mas que por estar em um ambiente um pouco degradante, acaba se casando e depois se separando, passando à viver com Leónie, uma prostituta que antes de Pombinha casar havia levado a menina a cometer atos de lesbianismo.

Segundo Alves (2008) Mott (1987) se pode perceber que Azevedo pintava a sociedade da época, que na verdade, não foge muito da nossa atual, com pessoas querendo mais e mais poder e dinheiro, pensando em si só, enquanto milhões de pessoas vivem marginalizadas em favelas, nas ruas.
Ele traz à tona, o que os livros de história, os meios de comunicação e os políticos não nos mostram, que estamos longe ainda de ser uma sociedade ideal. O seu estudo é indispensável na área das ciências humanas, pois ele traz-nos não somente um tema qualquer, mais uma análise crítica e analítica da vida social (ALVES, 2008).

Santos (2008) diz que a inserção de personagens lésbicas nas letras brasileiras vem desde o Quinhentismo advindo das terras portuguesas. Entretanto, ele surge como tema recorrente na literatura de autores brasileiros primeiramente com Gregório de Matos, o famoso Boca do Inferno, num poema intitulado Nise, nome fictício dado à uma lésbica pela qual o poeta havia se interessado, porém, que não correspondeu aos seus interesses.

Se a expressão da experiência erótica feminina chega a ser tão problemática, a representação da sexualidade lesbiana o é ainda mais, pois rompe com as relações dominantes de gênero, ao excluir a figura do homem e colocar a mulher em uma posição de sujeito atuante, em vez do papel tradicional de objeto do desejo masculino. Assim, o desejo lesbiano da obra não só representa uma dimensão importante da sexualidade feminina, como também serve para expor e questionar o controle social sobre a sexualidade e o corpo feminino. O lesbianismo abre um espaço para a realização pessoal e sexual da mulher, no qual a identificação com outro ser seu igual toma possível a auto integração do sujeito feminino.

O perfil das prostitutas, “preguiçoso e voltado para a busca incessante do prazer”, delineado por Aluísio Azevedo, teve ampla aceitação social, tanto que o modelo da mulher mundana fortaleceu seu oposto.

De acordo com Rago (1991, p.81) o campo que se constituiu em torno da prostituição passou a recobrir inúmeras práticas desejantes. O processo de modernização, de crescimento econômico, de explosão demográfica e de desterritorialização das subjetividades impulsionou o alargamento dos territórios do desejo.

Azevedo (2008), então, parece querer realçar que o destino do pobre era determinado pelo sistema social e econômico no qual vivia, mostrando que o caso de Pombinha não se constituía em uma exceção, mas em regra, assim chama atenção para o fato da decomposição familiar e a vida em comum, levada nos cortiços, fornecerem condições propícias à procura pela prostituição como meio de vida.

Na opinião de Caleiro (2002) as mulheres pobres necessitavam de “ganhar o pão de cada dia”, e desse modo tornavam-se candidatas em potencial à prostituição. Por outro lado, o moralismo recorrente acenava com a possibilidade de um “bom casamento” para as jovens que conservassem intacta sua honra. Aquelas que, apesar da sua condição humilde, permanecessem “dignas” conseguiriam um marido que se responsabilizaria pelo seu sustento, pois a necessidade de “trabalhar fora” deveria ser encarada apenas como ocupação transitória exercida por moças solteiras.

Verifica-se, então, que os comportamentos periféricos de muitas mulheres sinalizaram o caminho das mudanças posteriores, mas é impossível negar a força das representações femininas e do imaginário social nos discursos que visavam à formação da identidade e da cultura nacional durante o período e a época em que se passa o romance O Cortiço e seus reflexos que ainda subjazem na atualidade.

[1] Graduandos do Curso de Licenciatura Plena em Letras da Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Sen. Helvidio Nunes de Barros, Picos - PI



Referências Bibliográficas
ALVES, Graziela. O Cortiço: Retrato das Mazelas da Sociedade Brasileira. Disponível pelo site: http://www.eduquenet.net/cortico.htm. Acesso em out/2008.

AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 36.ed. São Paulo: Ática, 2008. 207p.
CALEIRO, Regina Célia Lima. O positivismo e o papel das mulheres na ordem republicana. Unimontes Científica V.4, n.2 - Julho/ Dezembro de 2002.

MOTT, Luis. O lesbianismo no Brasil. Porto Alegre: Mercardo Aberto, 1987.

RAGO, Margareth. Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo, 1890-1930 — Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

SANTOS, Giceli Ribeiro dos. A relação homoerótica feminina na literatura brasileira. Feira de Santana,BA: Universidade Estadual de Feira de Santana - Departamento de Letras & Artes. s/d. Disponível pelo site: http://www.inicepg.univap.br/INIC_2005/inic/IC8%20anais/IC8-5.pdf. Acesso em out/2008.

Minha querida professora Cristiane


final de aula


Ficção vai deixar saudades...


Turma boa...


Meninos inteligentes


Mazé muito inteligente


meninas estudiosas


Meninas do fundão....


trio bacana


amigos da sala


Turma Linda


foto da Professora Cristiane


Aquarela do Brasil

João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil - Aquarela do Brasil

Nossos momentos em sala de aula



Elioneide, amigona.

O ROMANCE DE TESE DO NATURALISMO

Maria Auzeni dos Santos[1]
RESUMO
O presente artigo teve como objetivo principal discutir sobre o romance de tese do naturalismo individual. Onde verificou-se que romance-tese é um gênero necessário, especialmente em momentos de fundação, mesmo que tenda a envelhecer mal.

Palavras-Chaves: Romance; Tese; Realismo; Naturalismo.

ABSTRACT
This article aimed to discuss the main thesis of the novel of naturalism individual. Where it was found that novel thesis is a gender-appropriate, especially in times of foundation, even if it tends to age badly.
Words-keys: Romance; Thesis; Realism, Naturalism.



O presente artigo tem o objetivo principal discutir sobre o romance de tese do naturalismo individual, buscando mostrar as principais características do realismo-naturalismo, bem como expor as semelhanças e diferenças entre o Realismo e o Naturalismo, ou seja, a literatura como instrumento de análise de tipos sociais e como reforma dos costumes.

Cultivado no Brasil por Aluísio Azevedo, Júlio Ribeiro, Adolfo Caminha, Domingos Olímpio, Inglês de Souza e Manuel de Oliveira Paiva; o caso de Raul Pompéia é muito particular, pois seu romance O Ateneu ora apresenta características naturalistas, ora realistas, ora impressionistas (ANTUNES, 2008).

A narrativa naturalista é marcada pela forte análise social a partir de grupos humanos marginalizados, valorizando o coletivo; interessa também notar que os títulos dos romances naturalistas apresentam a mesma preocupação: O mulato, O cortiço, Casa de pensão, O Ateneu. Há inclusive, sobre o romance O cortiço, a tese de que o principal personagem não é João Romão, nem Bertoleza, nem Rita Baiana, nem Pombinha, mas sim o próprio cortiço ou, como afirma Antunes (2008), “o romance é o nascimento, vida, paixão e morte de um cortiço”. Sob um certo ponto de vista, o mesmo poderia ser dito sobre o colégio Ateneu (os dois romances se encerram com a destruição dos prédios, abrigos coletivos).

Por ser o romance naturalista, em geral, de caráter experimental e cientificista, um romance de tese que se orienta para a análise social e valorização do coletivo, procura mostrar o indivíduo como produto de um conjunto de fatores "naturais" - meio em que vive e sobre o qual pode agir momento e hereditariedade psicofisiológica - geradores de comportamentos e situações específicas.

Percebe-se que no romance experimental naturalista, a personalidade humana é determinada ou configurada por forças instintivas naturais que não devem ser reprimidas. Nas obras realistas e naturalistas, as personagens individuais, retiradas da vida quotidiana, retratam comportamentos e reações, apresentando-se como representativas de uma categoria social.

Privilegiando a narração, as obras realistas e naturalistas recorrem a uma linguagem próxima do texto informativo, clara e simples, usando a ordem direta nas construções sintáticas e sem grandes artifícios de simbologia ou outros para traduzir a realidade. Em muitas obras de escritores realistas, podemos encontrar marcas do Naturalismo.

O período naturalista foi marcado pelo desejo de redefinir as relações entre literatura e sociedade, fazendo com que muitos leitores tomassem consciência de uma realidade que não queriam ou não podiam ver, mostrando que o escritor naturalista tem por função revelar as regras, os problemas, os comportamentos e o funcionamento inadequado da sociedade.

Com relação ao romance de tese, este tem sempre uma finalidade didática e normativa quando procura evidenciar a validade de uma versão do mundo sedimentada numa doutrina política, social, filosófica, religiosa - no caso, o positivismo, o socialismo utópico, o determinismo. É determinado por um fim específico, que existe antes e para além da história. O narrador é não só a fonte da história, mas também o intérprete do seu significado. O efeito persuasivo da história de aprendizagem passa por uma identificação virtual do leitor com o protagonista. A aprendizagem negativa leva à punição do protagonista. O seu insucesso serve como lição e espera-se que o leitor perceba o percurso errado e não o deseje seguir.

Eça de Queirós no "episódio doméstico" que constitui O Primo Basílio (QUEIRÓS, 1990), restringe-se, por exemplo, ao espaço social e geográfico da capital, como menciona em carta a Rodrigues de Freitas, em 30 de Março de 1878, o qual se torna determinante para a própria construção das personagens:
"eu procurei que os meus personagens pensassem, decidissem, falassem e atuassem como puros lisboetas, educados entre o Cais do Sodré e o Alto da Estrela; não lhes daria nem a mesma mentalidade, nem a mesma ação se eles fossem do Porto ou Viseu; as individualidades morais variam de província a província - mas no meio lisboeta que escolhi, creio que elas são lógicas, exatamente derivadas e perfeitamente correspondentes" (QUEIRÓS, Correspondência, 1967, p.141).
Do ponto de vista onisciente[1] do narrador serve a ótica naturalista e a estratégia do romance de tese, a caracterização das personagens, sobretudo as principais, que incide sobre sua origem social, sua educação, as características inculcadas pelo ambiente, ao serviço da tese social que o narrador pretende demonstrar.

No entanto, há no romance inúmeras interferências da subjetividade do narrador ao nível do uso dos discursos valorativo, figurado, conotativo, abstrato, moralizante, e da ironia, que o narrador coloca ao serviço do romance de tese, visando influenciar o leitor no sentido de o levar a "ver verdadeiro", a aceitar a validade de uma certa visão do mundo.

Assim, segundo Sérgio (2007) Romance de Tese, é uma expressão utilizada para caracterizar os romances naturalistas porque se caracterizam como estrutura pensada para provar ao leitor a visão determinista da sociedade, sendo que a desonra dos indivíduos que vivem em um meio degradado é a grande tese exposta nesses romances. O romance de tese tem uma função moralizadora, denunciando os aspectos negativos da sociedade, induzindo os leitores a fazerem algo para melhorá-la. Então, os chamados romances "de tese" ou romances "experimentais" têm sua validade: conseguem dramatizar temas e conceitos que, no campo da ciência, são difíceis de serem visualizados. Porém, dão um passo atrás na medida em que sacrificam o literário em favor de outros elementos não propriamente artísticos.
[1] Graduanda do Curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Piauí – UFPI, Campus Sen. Helvídio Nunes de Barros - Picos-PI.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTUNES, Dirceu Godinho. Realismo e Naturalismo. (s/d) Disponível pelo site: http://www.coladaweb.com/porliteratura/realismo_naturalismo.htm. Acesso em out/2008.


FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, 1910-1989. Minidicionário Século XXI Escolar: o minidicionário da língua portuguesa/ Aurélio Buarque de Holanda ferreira; coordenação de edição, Margarida dos Anjos, Marina Baird Ferreira; lexicografia, Margarida do Anjos... [et al.]. 4.ed.rev.ampliada. — Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.


QUEIRÓS, Eça de. Correspondência. Porto: Lello & Irmão, 1967.


_____ . O Primo Bazílio, Ed. e org. Luiz Fagundes Duarte. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990.


SÉRGIO, Ricardo. Bernardo Guimarães e o romance de tese. Publicado em 05/10/2007. Recanto das Letras. Disponível pelo site: http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/681604. Acesso em out/2008.
[1] Que sabe tudo. (conf. FERREIRA, 2000, p.499)